terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Depressão é um dos maiores vilões da saúde do coração


A maior parte das mulheres está insatisfeita com a vida amorosa, sexual e social.
Foto: Nik Neves
Embora a depressão seja um dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares, só 4% das mulheres conhecem essa relação entre os males, de acordo com a pesquisa Sinta Seu Coração, realizada pelas revistas SAÚDE e CLAUDIA em parceira com a Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo. Estudos mostram que o quadro de depressão pode levar à inflamação dos vasos, à formação de placas nas artérias, à pressão alta e à formação de coágulos. Todos esses fatores contribuem para a ocorrência de infartos e derrames.

Os aspectos bioquímicos, contudo, correspondem a apenas 30% das explicações para a conexão entre depressão e doenças cardiovasculares. Os outros 70% recaem sobre o estilo de vida de quem está deprimido, já que essas pessoas não tem disposição para praticar exercícios físicos, não cuidam da alimentação e têm mais dificuldade para abandonar vícios, como o álcool e o cigarro.


Leia a íntegra da reportagem abaixo.


No ranking dos principais fatores de risco para males cardiovasculares, a depressão está no topo, ao lado de hipertensão, tabagismo, diabete e colesterol alto. Já na pesquisa Sinta Seu Coração, coordenada pelas revistas SAÚDE e CLAUDIA, da Editora Abril, em parceria com a Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp) e o apoio da Nestlé, a tristeza sem fim aparece lá embaixo, entre os últimos lugares de uma lista montada para apontar as condições por trás de infartos. Em um universo de 5 318 mulheres participantes, apenas 4% associaram quadros depressivos a piripaques cardíacos.

O Sinta Seu Coração reúne informações coletadas pela área de Pesquisa e Inteligência da editora, por meio de um questionário online com mais de 70 perguntas, nos meses de junho e julho de 2013. Entre os assuntos tratados, há desde hábitos alimentares até o nível de conhecimento no que diz respeito a exames e outros cuidados com o peito. As emoções não ficaram de fora. E, nesse quesito, os resultados foram bem desanimadores.

Melancolia

Os dados dão pistas de que a maior parte da ala feminina anda insatisfeita com a vida amorosa, social e sexual. "Esse retrato denuncia um desgaste vindo da tripla jornada, que engloba trabalho, filhos e casamento", comenta o cardiologista Otavio Gebara, do Hospital Santa Paula, na capital paulista. Espremida numa rotina extenuante, ela deixa de ter tempo para si mesma e fica propensa à melancolia. "As mulheres ainda não perceberam a importância de zelar por suas emoções pensando na saúde cardiovascular", diz o cardiologista Alvaro Avezum, do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, em São Paulo. E olha o perigo: a depressão favorece inflamações e outros danos capazes de impor muito sofrimento aos vasos.

Um estudo brasileiro, apresentado em novembro passado no congresso da Associação Americana do Coração, não deixa dúvidas sobre o potencial inflamatório do estado depressivo. "Avaliamos um grupo de 4 222 pessoas por dois anos e observamos o aumento das taxas de proteína C-reativa nos indivíduos deprimidos", conta o cardiologista Antonio Laurinavicius, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. A substância, bastante conhecida no meio médico, é um marcador de inflamação e tem forte vínculo com a aterosclerose, a formação de placas nas artérias.

Mas o martírio dos vasos não se restringe a essa molécula. "Trabalhos apontam uma disfunção no sistema responsável pelo relaxamento e contração dos vasos entre os deprimidos", relata o cardiologista Marcus Bolivar Malaquias, da Sociedade Brasileira de Cardiologia. E quando esse mecanismo vai mal é a pressão alta que pode dar as caras.

Pensa que acabou o suplício? Ainda não. Existem evidências de que a angústia persistente também interfira na agregação das plaquetas, estimulando o surgimento de coágulos. Isso se dá por causa de uma pequena falha lá no cérebro: a desregulação de um neurotransmissor chamado serotonina, o mesmo associado ao bem-estar. "Tal desequilíbrio ajuda a explicar também a predisposição para o acidente vascular cerebral nesses pacientes", diz o psiquiatra Renério Fráguas, da Universidade de São Paulo.

Estilo de vida

Pois é, sobram motivos bioquímicos para justificar por que a depressão figura entre os principais fatores de risco cardiovascular. O mais espantoso, porém, é que isso corresponde somente a 30% das explicações para a conexão entre o distúrbio e infartos, derrames e afins. Os outros 70% recaem sobre o estilo de vida de quem vive pra baixo. "A maioria das mulheres que sofre com depressão não tem disposição para fazer exercícios", exemplifica o cardiologista Maurício Wajngarten, da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, e um dos autores do trabalho divulgado lá fora.

O desânimo que teima em acompanhar as deprimidas contribui para que muitas nem sequer botem os pés fora de casa e deixem de praticar uma simples caminhada. Pior: elas não cuidam direito do próprio cardápio, o que é um prato cheio para desencadear problemas cardiovasculares. "Há propensão à compulsão alimentar, um dos gatilhos para a obesidade", observa Gebara.

Outra marca da doença é a dificuldade em se livrar de vícios como o tabagismo e o alcoolismo. E, agravando a situação de vez, um dos comportamentos mais comuns é abandonar tratamentos. "Hipertensas e diabéticas desistem de tomar a medicação quando estão em depressão", dispara Malaquias, que também é professor da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais. Dá para imaginar o final da história...

Diretrizes médicas

Diante de um quadro assustador como esse, as sociedades médicas começaram a incluir em suas diretrizes propostas para rastrear a depressão nos consultórios, independentemente da especialidade. "Queixas como cansaço extremo, tristeza e insônia já servem de alerta", enumera Avezum. Segundo o psiquiatra Renério Fráguas, há diferentes tipos de transtornos depressivos, o que complica o diagnóstico. "Mas, em essência, todos são marcados pela diminuição do interesse e do prazer pela vida", explica.

O distúrbio possui um forte componente genético, só que existem alguns estopins capazes de facilitar seu aparecimento, caso do luto, da ruína financeira ou da separação conjugal. Os hormônios também têm sua parcela de culpa. Grandes oscilações dessas substâncias interferem no sistema que regula as emoções. Por isso a mulher em idade fértil é sempre uma séria candidata a se angustiar pra valer. "Elas têm o dobro do risco se comparadas aos homens", diz Malaquias.

Uma das maneiras de manter o mal a léguas de distância é procurar gerenciar o estresse e compartilhar as dificuldades do dia a dia. Sim, a turma do sexo feminino precisa aprender isso urgentemente. A pesquisa Sinta Seu Coração mostra que 18% raramente dividem seus problemas com outras pessoas. "O levantamento também revela que as mais jovens costumam dedicar o tempo livre às redes sociais e, assim, passam horas e horas entregues ao sedentarismo", destaca Gebara. Estimular a prática de atividade física é mais uma estratégia na prevenção e no controle da depressão. "Os exercícios interferem nos núcleos cerebrais que modulam os sentimentos", ensina Fráguas. É melhor correr da tristeza... O coração agradece em dobro.

Fonte:http://mdemulher.abril.com.br/saude/reportagem/prevencao-trata/depressao-maiores-viloes-saude-coracao-771676.shtml



quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Câncer de tireoide: os novos aliados do exame de TSH na detecção da doença

 

Estudos abrem caminho para a detecção precoce do câncer de tireoide, o quarto tipo de tumor mais frequente nas mulheres brasileiras. Hoje, o exame de TSH é recomendado após os 40 anos
 
Atualizado em 28/11/2013
 
Reportagem: Chloé Pinheiro / Edição: MdeMulher
     
Se não há histórico familiar ou sintomas, o monitoramento da tireoide deve começar aos 40 anos
Foto: Getty Images/ Ileine Machado
Em 2012, o câncer de tireoide figurou entre os cinco primeiros colocados no ranking dos tumores mais comuns entre o sexo feminino, segundo o Instituto Nacional de Câncer, o Inca, no Rio de Janeiro. Quando esse tipo de câncer afeta a produção de hormônios na tireoide, o metabolismo todo sente o baque. Se os níveis caem, o hipotireoidismo - disfunção mais comum - se impõe, provocando perda do desejo sexual, ganho de peso e outros sintomas. Já quando há hormônios demais, o hipertireoidismo deixa a pessoa irritadiça, com taquicardia e até depressão.
A questão é que continua difícil indicar um grupo que tenha maior predisposição a desenvolver células cancerosas na glândula. Além do histórico familiar e de nódulos aumentados na região, pouco se sabe sobre outros promotores da enfermidade. "Consideramos como um dos fatores decisivos a exposição à radiação, geralmente devido a tratamentos anteriores à base de radioterapia no pescoço", conta o endocrinologista Adriano Namo Cury, do Hospital Samaritano, em São Paulo.

Menos ou mais TSH
Recentemente, cientistas da Universidade da Islândia descobriram uma associação entre baixos níveis do hormônio TSH, espécie de combustível da tireoide, e o risco de nódulos malignos na glândula. Eles analisaram o material genético de um grande grupo de cidadãos islandeses e concluíram que os que possuíam certos cromossomos estavam até 30% mais suscetíveis a desenvolver a doença. E esses mesmos cromossomos eram ligados ao déficit do TSH.
O resultado, no entanto, é controverso. "O que se sabe, na verdade, é o oposto. Indivíduos com excesso dessa substância teoricamente estariam mais sujeitos a apresentar câncer por terem uma carga extra de hormônios superestimulando a tireoide", contrapõe o endocrinologista Hans Graf, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia.

Prevalência é maior nas mulheres
Se por um lado ainda é cedo para fazer a associação entre o TSH baixo e câncer, por outro o mapeamento genético tem potencial para responder uma outra questão. "Esses estudos são recentes, mas podem se transformar em descobertas que finalmente esclareçam por que a prevalência é maior nas mulheres", acredita o oncologista Gilberto Castro, do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo.
Além do genoma, joga contra o time das mulheres o excesso de estrogênio, principal hormônio no organismo delas. "Ele estimula a proliferação das células e pode favorecer o surgimento de tumores", analisa Graf.

Estilo de vida
Já outra pesquisa aponta na direção de um fator bem conhecido por fomentar quase todos os tipos de câncer: o estilo de vida . Embora seja sabido que cigarro e má alimentação estão diretamente relacionados à origem e ao crescimento de células cancerosas, agora, pela primeira vez, associou-se um estilo de vida repleto de maus hábitos aos tumores especificamente de tireoide. O responsável pelo feito é um grupo de cientistas chineses do Hospital de Mianyang. Eles publicaram no importante periódico americano Endocrine-Related Cancer um trabalho que focou pacientes com a doença e descobriu que eles apresentavam um índice muito alto de radicais livres no organismo. E tanto o cigarro quanto a má alimentação aumentam a quantidade de radicais livres no organismo.

Exame de TSH
Enquanto os avanços da ciência não resultam em novos consensos, os médicos têm algumas recomendações para prevenir o problema. Se não há histórico familiar ou sintomas, o monitoramento da tireoide deve começar aos 40 anos. "A partir daí, a cada cinco anos prescrevemos um exame que mede o TSH e fazemos um exame clínico para verificar se há nódulos no local", orienta Graf.

Autoexame
Ele ajuda a perceber se há caroços na região. Para realizá-lo, basta posicionar-se em frente ao espelho, inclinar a cabeça levemente para trás de modo a enxergar melhor o pescoço e, ao mesmo tempo, tomar um gole d’água. Enquanto você engole, a glândula vai subir e descer - não confunda com o pomo de adão - e, nesse momento, deve-se observar se há gânglios. Mas atenção: "Nem todos os nódulos são malignos, e a quantidade deles também não quer dizer que a pessoa necessariamente desenvolverá câncer", explica o endocrinologista Renato Zilli, do Hospital e Maternidade São Luiz, em São Paulo.

E mais: se o temido diagnóstico chegar, as perspectivas de vencer o mal são boas. "Os tumores ali evoluem lentamente e os índices de cura são muito altos, mesmo quando há metástase", tranquiliza Castro.

Fonte: http://mdemulher.abril.com.br/saude/reportagem/prevencao-trata/cancer-tireoide-novos-aliados-exame-tsh-deteccao-761538.shtml